Há 21 anos começava a funcionar em Curitiba a Divisão de Imunobiológicos do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde. Mais conhecido como Central de Vacinas, o setor é estratégico para a política de prevenção de doenças: é a partir dele que é coordenado o processo de recebimento, guarda e distribuição atualmente dimensionada em 13 tipos de vacinas e 12 soros, além de seringas, agulhas e curativos.
A Central de Vacinas é o coração da estratégia de imunizações desenvolvida em Curitiba e está por trás do declínio ou desaparecimento de antigas doenças como poliomielite (paralisia infantil), sarampo e rubéola. “Além das doenças e do seu custo sócio-econômico, como internamentos, mortes e sequelas, nosso trabalho é prevenir sofrimentos desnecessários”, resume o coordenador da Central, enfermeiro Renato Cruz.
A unidade – O “QG” dos imunobiológicos está instalado na Avenida Iguaçu, num imóvel alugado de aproximadamente 800 metros quadrados. Aí funcionam, entre outras dependências, o estoque de materiais e a Rede de Frio – uma ampla sala onde estão instalados 12 freezers e 11 geladeiras. São equipamentos de grande porte, exclusivos para receber e armazenar os imunobiológicos vindos do Ministério da Saúde, por meio da Central de Medicamentos do Paraná (Cemepar), até o momento de entregá-los no seu destino: as unidades de saúde, que recebem as vacinas, e os centros municipais de urgências médicas (CMUM), que aplicam apenas soros.
Toda essa rede movimenta atualmente cerca de 55 mil doses mensais de imunobiológicos do calendário de rotina – as vacinas oferecidas fora das campanhas, para crianças e adultos. Além disso, precisa guardar espaço para as doses destinadas às campanhas anuais de vacinação e as novas vacinas que, aos poucos, vão sendo incluídas na rotina.
Qualidade – A Central, porém, é muito mais que um depósito bem-estruturado. Zelar pela integridade desse patrimônio constante de milhares de doses e fazê-lo cumprir sua função é a parte mais importante da complexa tarefa da sua equipe, formada por 25 técnicos. Cabe a eles nada menos que o controle e a distribuição de imunobiológicos e insumos, avaliação da Rede de Frio tanto da rede pública quanto da particular (as clínicas de vacinas privadas), monitoramento a cobertura vacinal na cidade, coordenação das campanhas de vacinação, treinamento e suporte às equipes das unidades e controle dos chamados eventos adversos.
Além de conferir duas vezes por dia a temperatura registrada pelo termômetro de cada freezer ou geladeira, que precisa ficar entre 2º C e 8º C positivos, cabe a uma parte desse grupo preparar as caixas térmicas que levarão as vacinas e os soros da Rede de Frio da CV até as geladeiras dos distritos sanitários e, de lá, para as unidades de atendimento.
Para outros, a tarefa é monitorar a aplicação das doses nas unidades e, partir daí, construir os relatórios de movimentação. Nas campanhas, ocasião em que grande número de vacinas é usada em poucos dias, eles são diários. Nessas circunstâncias ou na rotina, a função desse acompanhamento em tempo real é garantir estoques de reposição compatíveis com a demanda e, ao mesmo tempo, impedir que doses preciosas se percam pelo vencimento do prazo de validade.
Eficiência – O trabalho da Central de Vacinas, porém, não termina aí e abrange a educação continuada da equipe de enfermagem – os profissionais de saúde que, na ponta do atendimento das unidades básicas, são os responsáveis pela sua aplicação. Como nos anos anteriores, cerca de 400 enfermeiros e auxiliares estão fazendo os cursos. Em 2012, o motivo dos treinamentos é a implantação, em breve, das vacinas Pentavalente (proteção contra difteria, tétano, coqueluche, meningite e demais infecções por Haemophilus influenzae tipo B) e Salk (dose injetável contra a paralisia infantil).
A abordagem tem como material de apoio a Cartilha de Orientações Técnicas Para a Equipe de Enfermagem, uma publicação de 68 páginas desenvolvida pela equipe daquele serviço de saúde que passa por todos os aspectos envolvendo imunobiológicos – desde a guarda e conservação até a notificação de reações adversas até a busca ativa dos pacientes em atraso com o esquema vacinal de rotina.
Por meio dessa aprendizagem contínua, as equipes ficam inteiradas sobre as características dos novos produtos, suas indicações e restrições e as técnicas de aplicação. “Muito mais que a estrutura física, é isso que garante a qualidade do nosso serviço de imunização: a qualidade profissional de quem trabalha nessa área”, frisa a diretora do Centro de Epidemiologia, Karin Luhm.
Vigilância – Apesar de todo esse cuidado com a administração dos imunobiológicos, é possível a ocorrência de reações pós-aplicação. Assim, além disso, cabe à área de Controle de Eventos Adversos monitorar as manifestações mais intensas que algumas pessoas possam apresentar. As notificações, rigorosamente acompanhadas, chegam à CV por meio das unidades de saúde da rede pública, além de clínicas e hospitais da rede privada. Esses dados são compartilhados com o Ministério da Saúde, para traçar o panorama nacional dos efeitos adversos.
Por conta desse trabalho abrangente feito pela Central de Vacinas, Curitiba é considerada a capital brasileira com a melhor cobertura vacinal infantil. A conclusão é da pesquisa amostral feita em 2008 pelo Centro de Estudos Augusto Leopoldo Ayrosa Galvão (Cealag), da Santa Casa de São Paulo. De acordo com o trabalho, 98% das crianças nascidas na capital em 2005 estavam em dia com o esquema de vacinação básica – 3% acima do que o desejado pelo Ministério da Saúde.
Vacinas e soros para todos os públicos
Os 13 tipos de vacinas, que podem se apresentar em doses isoladas (contra uma determinada doença) ou combinadas (contra duas ou mais doenças) protegem contra 14 doenças.
São elas poliomielite, rotavirose, difteria, coqueluche, tétano, influenza, sarampo, caxumba, febre amarela, rubéola, tuberculose, hemófilo, hepatite B e raiva.
As vacinas são oferecidas nas unidades de saúde básicas e de saúde da família. Existem esquemas vacinais próprios para crianças, adolescentes, adultos, gestantes e idosos.
Os soros, dependendo da forma como são obtidos, podem ser heterólogos ou homólogos. Os heterólogos disponíveis são antitetânico, antidiftérico, antirrábico, antiaracnídico e antiloxoscélico. Os homólogos são as imunoglobulinas contra hepatite B, tétano, raiva, varicela-zoster e para o fator Rh (para gestantes do programa Mãe Curitibana). Na rede municipal de saúde, eles são aplicados preferencialmente nos centros municipais de urgências médicas (CMUM).
Vacinas para crianças
Vacina |
Doses |
Idade |
Doenças evitadas |
||
BCG | única | 0 a 30 dias | Tuberculose | ||
Hepatite B | Três | Ao nascer, aos 30 dias de vida e aos 6 meses | Hepatite B | ||
Poliomielite | Três | Aos 2 meses, 4 meses e 6 meses | Paralisia infantil | ||
Tetravalente | três | 2 meses, 4 meses e 6 meses +reforço aos 15 meses | Difteria, tétano, coqueluche, meningite e demais infecções porHaemophilus influenzae tipo B | ||
Rotavírus | duas | 2 meses e 4 meses | Rotavírus | ||
Tríplice Viral | Duas | 12 meses e de 4 a 6 anos | Sarampo, rubéola e caxumba | ||
Tríplice Bacteriana | Única | entre 4 e 6 anos | Difteria, tétano e coqueluche | ||
Dupla Bacteriana | Três | A partir de 7 anos | Difteria e tétano | ||
Febre amarela | única | A partir de 9 meses | Febre amarela | ||
Pneumocócica | Depende da idade do bebê | até 6 meses: três doses com intervalos de dois meses e reforço após 1 ano; 7 a 9 meses: duas doses e reforço após 1 ano de vida; 10 e 11 meses: duas doses; 12 a 23 meses: dose única | meningites, pneumonias, sinusites e otites | ||
Meningocócica “C” | Depende da idade do bebê | Duas doses até 1 ano (aos 3 meses e aos 5 meses + reforço aos 15 meses) e dose única para os que já fizeram 1 ano. | Meningite meningocócica | ||
Vacinas para adolescentes
Vacinas | Doses | Quando dar | Doenças evitáveis |
Hepatite B | três | até 19 anos | Hepatite B |
Febre amarela | única | a qualquer tempo, a cada dez anos | Febre amarela |
Tríplice viral | única | a qualquer tempo | Sarampo, rubéola e caxumba |
Dupla bacteriana | três | a qualquer tempo | Difteria e tétano |
Vacinas para adultos jovens e idosos
Vacina |
Doses |
Doenças evitadas |
Dupla | Três: intervalo de 2 entre cada uma e reforço a cada 10 anos | Tétano e difteria |
Febre Amarela | Uma a cada 10 anos | Febre amarela |
Tríplice Viral | única | Sarampo, rubéola e caxumba |
Influenza | A partir de 60 anos, anual | Gripe |
Pneumo 23 | única | Pneumonia |
Dupla viral | única | Sarampo e rubéola |
Hepatite B (até 29 anos) | 3 doses |
Fonte: Prefeitura Municipal de Curitiba