Após trinta e três anos, irmãos se abraçam novamente no aeroporto de Curitiba

O movimento no saguão do aeroporto Afonso Pena, na região de Curitiba, era moderado como habitualmente no início da tarde de sábado (29). Abraços e reencontros tomavam conta do portão de desembarque doméstico a cada chegada de voos, cena típica para quem trabalha no local, mas especial para um casal de irmãos que não se via há 33 anos – José Buchu e Hilda Gomes.

O último encontro havia sido em 1979, quando José deixou a cidade de Colatina, no estado do Espírito Santo, onde morava com a irmã e os pais. O motivou foi o casório de José, que se mudou para Toledo, no Paraná, antes de se estabelecer em Guarantã, no Mato Grosso. Sem recursos, ambos ficaram inacessíveis um para o outro até que as filhas de cada um, pelo Facebook, acabaram com o paradeiro.

O reencontro aconteceu em Curitiba porque é onde vive a filha de José, Sandra. Ela hospeda o pai desde o dia 3 de setembro, quando ele chegou à cidade para realizar uma cirurgia de hérnia umbilical. “Eu e a Hilda decidimos marcar o encontro aqui e antes da cirurgia porque a minha saúde não anda 100%”, explicou José. As passagens foram compradas pelo filho mais velho de Hilda, que mora nos Estados Unidos.

O primeiro voo da vida de Hilda estava previsto para chegar ao meio dia, e 15 minutos antes a ansiedade de José se refletia no olhar incessante para a tela com a lista e o status dos voos. “Para quem esperou 33 anos, mais uns minutos não faz diferença”, disfarçou. Para ajudar a passar o tempo, o genro e a filha Sílvia brincavam anunciando a, ainda, falsa chegada de Hilda. “Não é não, tenho certeza. Tem que ficar atento, porque ficar abraçando mulher dos outros dá cadeia né”, contestava José.





As brincadeiras foram tantas que quando Hilda realmente apareceu, às 12h15, José demorou a acreditar, caminhando a passos lentos em direção ao portão. O abraço foi curto, afinal, eram 33 anos de conversa para colocar em dia. E eles já começaram ali mesmo no saguão. “Até que está parecido com o que eu lembrava, só o cabelo que ficou branco”, brincou Hilda. “É o nosso charme”, emendou José, despertando risos dos presentes.

No bate-papo, descobriram mais semelhanças além do DNA, como a esperança que ainda alimentavam pelo reencontro, ainda que ofuscadas pelas realidades distantes. “Eu até achava que não iria voltar a vê-lo, porque não tinha como nos comunicarmos. Eu pensava que só Deus, mais ninguém poderia fazer com que nos achássemos”, comemorou Hilda. Ela lembra de que várias vezes ponderava se Jose ainda estava vivo. “Mas como eu estou, ele pode muito bem estar também né, nunca perdi a esperança”.

Essa esperança foi reforçada pela determinação das primas Sílvia e Celina, que cresceram ouvindo histórias sobre os tios, e também alimentavam a esperança de um dia conhecê-los. Para Celina, era também uma espécie de missão. “Meu avô, antes de morrer, pediu para mim: ‘Você vai achar o José para a sua mãe’”, lembrou. Quando finalmente conseguiu localizar uma “Sílvia Buchu” na rede social, foi justamente Hilda quem confirmou que se tratava da sobrinha, por conta da data de nascimento. “A mãe é ótima em data”, ressaltou Celina.

Certamente o dia 29 de setembro é outra data que não deverá ser esquecida por Hilda, que seguiu do aeroporto para a casa do genro de José, que além de registrar em filme todos os lances do reencontro, ainda providenciou o almoço no qual os irmãos irão seguir colocando em dia os 33 anos de conversas perdidas.

Fonte: G1





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